Memórias de uma época - IV

20100121

Com a força de um coração cósmico

O que ocorreu no Haiti, antes e depois do terremoto, foi trágico, mas pode ser uma boa lição, considerando que tais eventos podem tornar-se mais frequentes



O Haiti foi abalado mais uma vez, ontem pela manhã, com um tremor de magnitude 6.1 (escala Richter), o que já era esperado pelos geólogos, apesar de muitos acharem que é a colera dos deuses que não está ainda aplacada, e ao longo de décadas e séculos isso será inevitável, em função da condição geofísica daquela região.

O sismo que jogou p’ra cima o Haiti, assustou os menos avisados com um novo tremor de 6.1 (escala Richter), anteontem de manhã, considerado pelos geólogos como um fenômeno esperado, porque nem toda a energia acumulada foi liberada no primeiro terremoto. E pode haver outros menos potentes, nos próximos dias.

Para o editor da revista Scientific American Brasil, jornalista Ulisses Capozzoli (2010), boa parte das pessoas pode até pensar que a cólera dos deuses ainda não foi aplacada, ao refletir sobre a situação que a “estupidez humana” produziu naquela região e que o terremoto expos ao mundo.

Para Capozzoli (2010),
[...] enquanto a Natureza não desiste de castigar os humanos, liberando sua própria tensão interior, a comunidade humana de muitas maneiras toma iniciativas louváveis (...) artistas e cidadãos comuns parecem mais determinados que seus governos, determinados a se exibir como pavões preocupados como implicações geopolíticas.
O jornalista critica países como a França que, por muito tempo, explorou o Haiti e parece não saber (?!) como ajudar, mesmo tendo fortes obrigações morais, considerando-se a sua “presença devastadora” que está gravada em todas as partes do país, a começar da língua, dos costumes e da miséria. Espedava-se que tomasse a iniciativa.



Magnitude dos terremotos
O sismo que literalmente desmoronou o Haiti, de magnitude 7,0, é quase dez vezes mais poderoso que o que se manifestou ontem. Mais exatamente, 9 vezes mais intenso.

E isso porque os sismos são avaliados numa escala logarítmica de base 10, em que um tremor de escala 7,0 é dez vezes mais intenso que um de magnitude 6,0 e, portanto, 100 vezes mais intenso que um de magnitude 5,0 ou mil vezes que um de magnitude 4,0.

Da mesma forma, um tremor de magnitude 8,0 é dez vezes mais poderoso que um de magnitude 7,0. A escala vai até 9,0 porque, depois disso, o solo se rompe e não faz mais sentido medir a energia de um sismo. (Capozzoli, 2010)
Tremores incomuns

Avalanches de neve, em países de clima gelado, podem ser provocados artificialmente, quando se percebe que amjeaçam vidas e instalações humanas. Deslizamentos de encontas (em regiões tropicais e com chuvas pesadas de verão) podem ser estudadas pelos geólogos e previstas a tempo de evitar o pior. Mas com terremotos ou sismos é bem diferente, pois apesar de seu avanço tecnológico continua incapaz de evitar surpresas duras e desastrosas.

Explica Capozzoli (2010) que os tremores de terras podem ocorrer mesmo em áreas comuns no centro das chamadas placas tectônicas - uma subdivisão da litosfera, que é superfície do planeta sob os nossos pés “onde tudo, aparentemente, é sólido e estável”.

Entre o sul do Estado de Minas Gerais e o leste do estado de São Paulo, onde se localizam as cidades de Poços de Caldas (MG) e São João da Boa Vista (SP), existem falhas geológicas que podem produzir tremores de magnitude incomuns da placa tectônica Sul Americana, devido a processos de reacomodação geológica.

No caso do Caribe, trata-se de “uma peça pequena numa estrutura que parece a casca quebrada de um ovo cozido”, como ilustra Capozzoli. Literalmente prensada pelas placas Norte Americana (norte/nordeste), do Pacífico (noroeste), de Cocos (oeste), Africana (leste) e Sul Americana (sul), em deslocamento constante, a placa do Caribe sofre pressão de todos os lados, como protagonista central de um processo de convecção originário do coração metálico e quente da Terra.
O calor que funde metais como o ferro e níquel, entre outros, no centro da Terra, é tanto remanescente da bola de fogo que a Terra foi na fase de sua criação, quanto resultado de energia liberada por elementos radioativos, como o urânio, no corpo do planeta.
Essa mesma estrutura metálica em movimento no centro da Terra também é a fonte do campo magnético que protege as formas de vida do planeta de radiação cósmica, especialmente das partículas liberadas pelo vento solar, mais abundantes nos momentos de intensidade de explosões solares, com ciclo médio de 11 anos.
Isso significa que a vida se equilibra sempre entre situações extremas com a determinação que lhe é própria, embora, aparentemente, esteja sempre ameaçada. (Capozzoli, 2010).
Leia mais sobre o terremoto no Caribe, em matérias d’A Página Haiti devastado e em É possível prever terremotos

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20100110

Olhares científicos para o futuro

Controles genético e microbiano, mudanças de paradigmas na medicina e na paleontologia estão entre as expectativas para a nova década

A revista Nature convidou pesquisadores e formuladores de políticas das principais áreas de conhecimento e tecnologia do mundo para identificar questões-chave de suas disciplinas: perfil, obstáculos e medidas urgentes.

Na visão dos cientistas, publicada no último dia 7, são esperados avanços significativos em Biologia, Metabolômica, Medicina, Microbiômica e Farmacologia, enquanto outras áreas merecem mais atenção como as de Educação, Pesquisa, Química, Saúde, Governança e Ecologia, entre outras.


Pesquisas e estudos interdisciplinares – Os modelos de pesquisa em geral, vinculados às universidades, as organizações de saúde e aos mecanismos de busca da internet, requerem mudanças conceituais, pois os atuais métodos já estão defasados e ineficientes.


Desafios políticos, sociais e ecológicos – Nos campo da política, observa-se que a governabilidade, a demografia, a proteção ecológica (com destaque para o solo) e a sustentabilidade energética terão que passar também por processos de adequação e mudanças de foco.


Evolução do tratamento das doenças – Apesar dessesspectos negativos, que deverão ser resolvidos nos próximos dez anos, há significativos avanços no âmbito da medicina e nos tratamentos de saúde, com melhor compreensão do metabolismo humano, do papel da comunidade microbiana, da psicologia biológica e da biologia sintética.


Melhor compreensão do Universo – Procurar entender o Universo, em seus extremos dimensionais, alcançados pela astronomia e a física nuclear, são duas das conquistas altamente tecnológicas esperadas para a década, com telescópios e raios laser muito potentes e mais perfeitos.

Sínteses das previsões
1 Pesquisas e estudos interdisciplinares

Os modelos de pesquisa em geral, vinculados às universidades, as organizações de saúde e aos mecanismos de busca da internet, requerem mudanças conceituais, pois os atuais métodos já estão defasados e ineficientes, carecendo de:

- maior envolvimento das universidades na busca de soluções para os problemas contemporâneos (degradação ecológica, pobreza, guerras e saúde), e desenvolvimento do espírito colaborativo, interdisciplinar, na preparação dos alunos;

- um amplo quadro de investigadores clínicos para prosseguir estudos transdisciplinares de fisiologia da doença humana, incluindo além das contribuições acadêmicos os estudos orientados de independentes ou de autodidatas; e

- aprimoramentos nos sistemas e mecanismos de busca e pesquisa teórica pela internet, de modo a evitar disseminação de informações falsas e sem conotação científica, como se fossem verdadeiras.
2 Desafios políticos, sociais e ecológicos

Nos campo da política, observa-se que a governabilidade, a demografia, a proteção ecológica (com destaque para o solo) e a sustentabilidade energética terão que passar também por processos de adequação e mudanças de foco, procurando, principalmente:

- a estruturação de sistemas eficazes de governança global para a gestão do desenvolvimento sustentável, com base em perícia (ou estratégia) técnica, investimentos em novas tecnologias, controle rigoroso do lobby empresarial e maior financiamento dos países mais pobres nas questões climáticas;

- a busca de soluções estratégicas para os desafios sociais do envelhecimento populacional, especialmente os relacionados ao declínio produtivo desse segmento, ao ininterrupto consumo de bens e a imigração por diversas causas (climáticas, bélicas, políticas etc.);

- preocupar-se mais com os detalhes sutis dos organismos biológicos e as implicações da dinâmica evolutiva do planeta e resistir às perturbações e perdas de ecossistemas, fortalecendo as redes ecológicas;

- promover a pesquisa e a adoção de práticas agrícolas e tecnologias que permitam cultivar e sustentar a vida nos ecossistemas do solo, sob as abordagens e os métodos orgânicos da revolução verde;

- dar mais atenção à interatividade da química com a física, a biologia e a toxicologia; e

- encontrar o caminho para um sistema energético em que o sol, os ventos, o átomo, a geotérmica e a hidrelétrica forneçam mais de 80% da eletricidade.
3 Evolução do tratamento das doenças

Apesar desses aspectos negativos, que deverão ser resolvidos nos próximos dez anos, há significativos avanços no âmbito da medicina e nos tratamentos de saúde, com melhor compreensão do metabolismo humano, do papel da comunidade microbiana, da psicologia biológica e da biologia sintética, produzindo os seguintes resultados, entre outros:

- desenvolvimento da genômica personalizada (ou adaptada), em busca dos principais fatores de risco para a doença, e de crescente aceitação e interesse pela seleção de embriões sadios;

- conhecimento sobre os efeitos do desequilíbrio microbiano nos processos metabólicos e suas relações com algumas doenças comuns como colite ulcerativa, doença de Crohn, obesidade, diabetes e doenças autoimunes;

- estudos clínicos das perturbações mentais e investigações sobre genes específicos para determinadas doenças, em vez de complexa interpretação dos sintomas;

- desenvolvimento de medicamentos eficazes pela indústria farmacêutica, menos envolvida com as estratégias de marketing que promovem remédios de eficácia questionável; e

- integração da engenharia molecular e da computação no tratamento das doenças, emnpregando vacinas orais e células-tronco 'programáveis' e/ou bactérias (evoluídas em laboratório).
4 Melhor compreensão do Universo

Procurar entender o Universo a partir da matéria escura e outros planetas e sóis com possibilidades de vida iguais às nossas; visitar a Lua e (em seguida) enviar um macaco a Marte, são alguns dos feitos da astronomia e da engenharia astrofísica esperados para a década inaugurada.

Será a década da astronomia, que colocará em operação, em 2014, o maior telescópio espacial do mundo (e com mais recursos tecnológicos).

No campo da física nuclear a redução do tamanho dos feixes de raios laser (amplificação da luz por emissão estimulada de radiação) para 1 nanômetro (tamanho de uma pequena molécula) é a grande conquista. Esse avanço permitira melhorar a capacidade de armazenamento dos computadores, criando as possibilidades de petabytes (que se seguirão aos terabytes, gigabytes, megabytes etc). Permitirá também produzir novos estados da matéria, processar uma compressão ou aquecimento de materiais a temperaturas só encontradas nos centros de estrelas (permitindo estudar estrelas em laboratório) e construir marcadores de tempo ultraprecisos.

Para ler as previsões (em inglês), vá para a página 2020 Visions , da Nature ou para um resumo das matérias (em português)vá para o Scribd, ou abaixo.

Entre os colaboradores estão: Peter Norvig (pesquisa), David A. Relman (microbioma), David B. Goldstein (medicina personalizada), Daniel M. Kammen (energia), Daniel R. Weinberger (saúde mental), Leslie C. Aiello (paleontologia hominídeo), George Church (biologia sintética), John L. Hennessey (universidades), Jeffrey Sachs (governança global), Adam Burrows (astronomia), Gary P. Pisano (novas drogas), Joshua R. Goldstein (demografia), Paul Anastas (química), Richard Klausner e David Baltimore (Institutos Nacionais da Saúde), David R. Montgomery (solo), Thomas M. Baer e Bigelow Nicholas P. (laser), Robert D. Holt (ecologia) e Jeremy K. Nicholson (metabolômica).
Visions 2020

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Estatísticas mundiais

Estas estatísticas são aproximações baseadas em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), CIA Factbooks e US Census Bureau, entre outras instituições que fazem levantamentos sobre os diversos itens mostrados. Devido à dinâmica das datas é possível que alguns dados se apresentem contraditórios e não se atinja a acurácia pretendida. Por isso é bom comparar os dados e as informações com outras fontes. O Relógio Mundial e a Calculadora são criações de Poodwaddle.

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