Devolvendo a visão aos cegos
As fotocélulas transformam a luz em impulsos elétricos que estimulam os neurônios da retina e os transmitem ao cérebro através do nervo ocular.
A evolução eletrônica desenvolveu-se com muita velocidade, considerando as duas últimas décadas, saindo do virtual, do science fiction, para o real, o atual. São realidades os avanços da medicina, a evolução espacial e o aperfeiçoamento dos fazeres, todos baseados em altas tecnologias computadorizadas. A visão é um desses campos, onde a nanotecnologia tem alcançado conquistas cada dia mais promissoras.
Há dez anos, diante das possibilidade abertas pelas próteses eletrônicas de retina, surgiram várias pesquisas, procurando saber o que pensavam os deficientes visuais a respeito do assunto. Pessoas cegas ou com sérios problemas visuais, sofrendo de condições degenerativas da retina ficariam muito felizes se pudessem reconquistar a mobilidade, andar sem auxílio, serem capazes de levar uma vida independente, reconhecer faces e ler novamente.
Hoje, esses desejos viraram realidade, de acordo com uma série de apresentações feitas no simpósio internacional Visão Artificial – que aconteceu, em outubro último, na Alemanha – e com a última edição da revista Der Spiegel, que traz reportagem sobre a mais recente conquista da nanotecnologia ocular.
Com a implantação de um microchip atrás da retina, uma equipe médica da Universidade de Tübingen (Alemanha), conseguiu devolver parcialmente a visão de vários pacientes, que conseguiram reconhecer objetos e chegaram inclusive a ler letras grandes. Um dos pacientes, com 45 anos, vítima de retinite pigmentosa, desde os 22 anos, foi a grande estrela do experimento. "Com Miika (nome do paciente filandês), conseguimos, graças a esta prótese, ultrapassar a barreira na qual alguém legalmente não é mais considerado cego", disse Eberhart Zrenner, chefe da equipe.
A prótese consiste; de 1.500 fotocélulas instaladas em um microchip de três milímetros, que, em uma operação de quatro horas, é implantado debaixo da retina. As fotocélulas transformam a luz em impulsos elétricos que estimulam os neurônios da retina e os transmitem ao cérebro através do nervo ocular. O chip trabalha como uma câmara digital.
A importância do sucesso nanocirúrgico está no fato deste ser o primeiro experimento do tipo, que funciona sem óculos e bateria, e não apresentar rejeição, o que permite oferecer o benefício ao público (que tiver dinheiro e acesso ao tratamento). Até então, a tecnologia adotada (e testada em humanos), consiste em uns óculos que tem uma mini câmera de TV acoplada e que leva a imagem para um microprocessador que o paciente carrega como se fosse um celular ligado a um cinto e que transmite, como um telefone sem fio, para os óculos remetendo diretamente para um chip que será implantado no fundo do olho. Esse chip transforma as informações em imagens fazendo com que a pessoa volte a enxergar. Um sistema complexo e desconfotável, que a experência alemã procurou superar, e que outros países ainda não conseguiram.
No Brasil, apesar dos avanços nanotecnológicos alcançados pela Universidade de Brasília (UNB), Universidade Presbiteriana MacKenzie (UPM) e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ainda não há tratamento seguro para a cegueira causada por doenças, sendo a novidade adequada apenas para pessoas que tem a parte da frente da retina alterada, mas ainda tem a parte de trás, o nervo, em boas condições de funcionamento. “Na maioria dos casos, são aquelas pessoas que nascem enxergando e vão perdendo a visão ao longo da vida", explica o médico Rubens Belfort Junior, presidente do Instituto da Visão da Unifesp. Mesmo assim, o Brasil é, desde agosto passado, o primeiro país da América do Sul a implantar o chip de retina, hoje, possível apenas nos Estados Unidos, México, França, Inglaterra e Suíça.
No entanto, em nível de pesquisa e ensaios clínicos, os cientístas brasileiros estão avançados. Está para iniciar uma experiência, envolvendo médicos e físicos das referidas instituições, que procurará substituir as células de parte da retira por um chip "inteligente", também sem a necessidade de óculos ou qualquer outro aparelho adicional. É o que informa o físico Eunézio de Souza, da Universidade de Brasília, esclarecendo que os atuais sistemas tem vantagens e desvantagens.
O implante retinal – uma placa de microfotodiodos sensíveis à luz, acoplada à "fiação" neuronal da retina, que precisa estar ainda intacta, substitui os cones e bastonetes (células da retina que captam cores e formas) – tem a desvantagem de precisar de muita luminosidade para funcionar, exigindo o uso de uma fonte externa de luz sobre o olho o tempo todo. Já o implante epiretinal exige a presença de uma fonte de energia constante dentro do olho, envolvendo o complicado uso de uma bateria.
A experiência brasileira aposta no chip smart pixel, mais "inteligente" que os utilizados hoje (dumb pixel), capaz de fazer a diferença na hora de perceber o mundo. De toda forma, o sucesso do implante alemão sem óculos é um grande avanço, que brevemente estará disponível ao público.
Além dessas experiências, equipes de pesquisa, na Suíça e no Japão, estão desenvolvendo métodos onde o chip não é mais implantado, permanecendo na derme que protege o olho. Apenas os eletrodos que estimulam as células nervosas da retina são inseridos no interior do olho, por meio de pequenas incisões.
Pesquisadores chineses estão desenvolvendo implantes que estimulam diretamente os nervos ópticos, em vez das células da retina, enquanto uma equipe norte-americana está tentando estimular o córtex visual diretamente no cérebro. Esses avanços antecipam oportunidades promissoras para o futuro recente.
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